quinta-feira, 12 de março de 2015

A QUESTÃO DA AFETIVIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR

A Questão da Afetividade no Espaço Escolar
Warlen Fernandes

            Muito ouvimos falar a respeito da importância da afetividade na relação de ensino/aprendizagem. Precisamos identificar o que nos torna um professor afetivo, que parcerias devemos estabelecer com as famílias de nossos alunos para o sucesso do processo pedagógico e também que valores propagamos às nossas crianças no cotidiano de sala de aula, visto que não existe prática docente dotada de neutralidade.
            Vivemos atualmente, a negação de princípios e valores que deveriam estar na base da pirâmide familiar, e isto afeta sobremaneira a forma como as pessoas devem se cuidar: cuidar do corpo; da maneira como se fala; da maneira como tratamos nossos semelhantes;  a natureza;  enfim, o mundo que nos abriga. Neste sentido, não podemos esquecer que o cuidar é algo aprendido e transmitido, sendo assim é um ato consciente e voluntário.
            Na que tange à Educação Infantil, há uma corrente que afirma que o Educar e o Cuidar são práticas indissociáveis. Visto que, será no cuidado com a criança que a relação afetiva se estende. Ao trocarmos uma frauda, por exemplo, há interação,  intenção e  uma relação pedagógica intensa que se consolida com a fala, com o sorriso e também com o toque que acalma a criança e a faz entrar em equilíbrio e sentir-se segura.
            Quando cuidamos do outro estamos trabalhando com o conceito prático de afetividade. Que pode ser entendida como a mistura de vários fatores geradores de equilíbrio. Cuidar é estabelecer limites,  é acolher e encorajar.  Ao estabelecermos limites estamos oferecendo à criança a fronteira da percepção do outro. Estamos ensinando-a amorosamente a lidar com suas frustrações e estabelecer parâmetros para a auto-percepção. Assim, afetividade abrange a linguagem física e a linguagem verbal. Por isto, as crianças aprendem com  os jogos de imitação e necessitam de bons modelos para se espelharem.
            É no contexto familiar que a criança vive as suas primeiras e mais amplas experiências. Será a família a responsável pelos ensinamentos dos princípios da linguagem afetiva, a escola contribui para que novos sentimentos, vivenciados em grupo e individualmente aflorem, mas a semente foi plantada no âmbito familiar.
            A tarefa de cuidar exige que o educador tenha a capacidade de lidar com conflitos, sem reações impulsivas ou imediatistas.  Esta afirmativa é válida tanto para pais quanto para professores e outros agentes escolares.

            Cabe então a indagação: qual o papel da escola que reconhece a importância da relação afetiva? Entendo que cabe à escola, em parceria com as famílias, favorecer condições para que os alunos cresçam, evoluam e tornem-se cidadãos responsáveis. Para tanto, o trabalho pedagógico deve estar ancorado na tríade: respeito/parceria/responsabilidade social. Segundo Andreazza (1997), a palavra afetivo decorre do latim affectus  e significa capaz de sentimento ou emoção

            Abrir espaço dentro dos conteúdos escolares para que desde a Educação Infantil, a criança reflita questões de ordem social (por exemplo: questões relativas ao preconceito ou questões ambientais). Uma escola comprometida com valores solidários soma, agrega, salta qualitativamente para a construção de um futuro melhor, mesmo que no micro cosmos.

            É inegável a contribuição de Wallon (filósofo, médico e psicólogo francês) sobre as questões afetivas no contexto escolar. Este teórico estudou em profundidade a dimensão afetiva que concebe as emoções e  fala sobre a indissociabilidade entre o biológico, o cognitivo e o social ou afetivo. Para ele, o desenvolvimento humano é descontínuo, alternado em etapas ora com foco na cognição, ora com foco na afetividade. Assim, é imprescindível que cada criança seja vista em sua individualidade, que seja tratada como pessoa única e respeitada em sua singularidade. Cada criança tem um ritmo próprio e o educador deve garantir que este ritmo seja respeitado e deve também contribuir para que a criança tenha seus momentos de privacidade, de construção  da autonomia e de exploração de seu potencial criativo.

            Quando falamos de afetividade estamos nos referindo às emoções, expressões afetivas que podem ser rápidas ou demoradas, fortes ou fracas, superficiais ou intensas. Cada pessoa responde a cada um destes fatores de uma forma específica. O choro da criança pequena é o seu canal de comunicação com o mundo, logo, merece atenção. As oscilações de humor do adolescente também não podem se r vistas como alguns chamam de “aborrecenência”,  está contido aí, uma série de fatores que  exigem de pais e educadores, tato, sensibilidade e muita paciência para o pleno desenvolvimento da pessoa em questão.
            Miguel Arroyo enfatiza que:
“... o que fica para a vida, para o desenvolvimento humano são os conhecimentos que ensinamos, mas também, e sobretudo, as posturas, os processos e significados que são postos em ação, as formas de aprender,’ de se interessar, de ter curiosidade, de sentir, de raciocinar e de interrogar.” (2000, p.110).
            O contato  afetivo com o jovem (criança ou adolescente), precisa ter qualidade, ser verdadeiro para que ocorra a interface no desenvolvimento físico e psicológico.  Estamos realçando que  muitos educadores entendem a relação afetiva ao contato físico de acarinhar com abraços. Propomos o estabelecimento de vínculos verdadeiros e profundos, que requer, saber ouvir, conversar, se interessar pelo que a criança goste, se envolver, se comprometer e acima de tudo, estar sensível a seus sentimentos e necessidades.
Não raro é o discurso que separa cognição e emoção. Esta compartimentalização surge na figura Da escola tradicional que preocupava-se com a transmissão de conteúdos, muitas vezes abstratos à criança.  Busca-se na atualidade, o alinhamento entre pais e escola no que se refere à condução do processo de desenvolvimento do aluno.
Os docentes, constroem  saberes que o ajudam a lidar com situações de conflitos, mas em sua maioria, estes saberes são construídos empiricamente, carece de habilidade com base científica. Fazer e saber o motivo pelo qual está fazendo.
Segundo Simões (2003), do  professor do terceiro milênio exige-se mais do que em qualquer época, vocação, competência e aptidões emocionais, habilidades e consciência pessoal e relacional para possibilitar o desenvolvimento cognitivo de seus alunos.
Uma escola preocupada com a educação cidadã, revê os seus princípios, refaz trajetórias, discute coletivamente os problemas centrais e não despreza os saberes experenciais, mas oferece alicerce para  a busca de trocas, para que o docente cumpra o função social de seu trabalho: educar para a vida.
Finalmente, cabe ao educador apoiar emocionalmente as crianças, observando e respeitando as suas peculiaridades. O educador afetivo deve garantir em sua sala de aula e em outros espaços da escola, um ambiente acolhedor e seguro que propicie uma atividade atividade afetiva, criativa, libertadora, com respeito, preparação, entrega, força e muito amor.



REFERÊNCIAS:
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. 5 ed. RJ. Vozes, 2002.


Duarte Jr. Jão Francisco. Por que arte-educação? 18 ed. SP: Papirus, 2007.

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