Lev Semyonovitch Vygotsky
Perfil:
Ø De origem judaica,
nasceu no dia 5 de novembro de 1896 em
Orsha – Bielo Rússia - (algumas obras registram o seu nascimento no dia 17 de
novembro. Isto ocorre devido a alteração ocorrida no calendário Russo pós-revolução).
Ø Segundo filho de
uma família de oito irmãos, Vygotsky era familiarmente privilegiado no âmbito cultural e financeiro.
Ø O seu pai era
banqueiro e sua mãe professora (embora não exercesse a profissão foi ela quem
lhe ensinou alguns dos idiomas aos quais dominava). Possuíam uma vasta
biblioteca, sempre aberta aos amigos da família.
Ø Até os 14 anos
Vygotsky foi educado em casa por matemático judeu chamado Salomn Ashpiz . Aos
15 anos ingressa no ensino formal.
Ø Entrou para a
faculdade de Medicina, mas acabou trocando por Direito, formando-se em
1917, pela Universidade de Moscou.
Ø Retornou à
Medicina quando já era um psicólogo de
renome porque queria bases neurofisiológicas para o estudo da mente que
vinha desenvolvendo. Também estudou
Filosofia, História, Lingüistica e Artes. O seu primeiro trabalho científico
publicado foi A Psicologia da Arte.
Ø A fluência em idiomas como latim por exemplo,
permitiram-lhe o acesso a várias obras estrangeiras.
Ø Casou-se aos 28
anos e teve duas filhas.
Ø Com ideais
marxistas, formou grupo de estudo e pesquisa com Leontiev e Luria.
Ø Interessou-se em
estudar a deficiência e aprofundou
estudos nesta área. Foi membro fundador do Instituto de Defectologia de Moscou.
Ø Diferentemente de
Freud, a contribuição deste autor para as artes, foi percebê-la enquanto
processo social e não apenas como uma
manifestação do inconsciente.
Ø Suas obras foram
censuradas num período compreendido entre 1936 a 1956 devido ao extremo
fechamento político que cercou a produção científica na então União Soviética.
Ø Acometido pela
tuberculose em 1920, sofreu várias internações e faleceu no dia 11 de junho de
1934, aos 37 anos. Deixando mais de 200 estudos científicos escritos.
Principais Linhas de Estudo
Ø A crise da psicologia
Ø A psicologia da
arte
Ø Diferenças entre o
psiquismo animal e humano
Ø Problemas das
deficiências físicas e mentais
Ø As relações entre
pensamento e linguagem
Ø A evolução da
escrita na criança
Ø A Mediação
Simbólica
Ø As relações entre
desenvolvimento e aprendizagem
Ø O brinquedo
O foco de suas preocupações
Ø O desenvolvimento
do indivíduo e da espécie humana como resultado de um processo
sócio-histórico. A origem das mudanças
que ocorrem no homem, ao longo de seu desenvolvimento, está, segundo seus
princípios, na sociedade, na Cultura e na sua História.
INTRODUÇÃO
Os trabalhos
de Vygotsky constituem uma rica fonte de estudos e reflexões para conciliar as
experiências culturais com o desenvolvimento cognitivo.
Enfatizou a
origem social do pensamento e da
linguagem, bem como percebeu o desenvolvimento cognitivo como uma aquisição
cultural.
Será estudando
as funções psicológicas superiores no plano social e no plano individual que
este autor situa tais funções como transformações internalizadas de padrões sociais de interação interpessoal.
Suas análises
o levaram a constatar que, enquanto os
animais agem e reagem à natureza de uma forma sensorial instintiva e obedecendo
aos fatores biológicos de sua espécie, o homem
extrapola suas capacidades sensoriais e age de forma ativa e consciente,
interagindo com seu meio social, transformando-o para atender às suas
necessidades e sendo transformado por ele.
Inspirado pela
teoria marxista, Vygotsky defendia que o desenvolvimento psicológico seria
produto das relações de trabalho que os homens criam em um grupo social. Sendo
pois, o trabalho uma atividade humana nascida da necessidade de sobrevivência e de dominação daquilo que os homens entendiam inicialmente,
como força da natureza. Neste aspecto, o homem desenvolveu instrumentos (a pá,
o fogo, a roda, a flecha, dentre outros ) que lhe permitia transformar a
natureza e criar produtos materiais. Ao mesmo tempo, no esforço de
transformação da natureza, o homem também se transformou criando novas
habilidades e um mundo simbólico necessário à comunicação e divisão de tarefas.
Em especial, o homem cria a linguagem – que revolucionou a forma como até então
se relacionava com o mundo -. Esses produtos da atividade humana no trabalho
juntamente com os produtos materiais, constituem a cultura humana.
Assim, a
teoria sócio-histórica contribui para ampliar
horizontes tanto no campo da psicologia, neuroligüística, como no campo
educacional. Será neste sentido que enfocaremos o presente estudo: pretendendo
lançar um novo olhar em relação à criança e consequentemente em relação à
prática pedagógica.
A abordagem sócio-interacionista de
Vygotsky
Vygotsky surge
no campo da psicologia rejeitando os modelos inatistas.
Ele ressalta
que o ser humano nasce e se desenvolve num meio social e cultural.
Esta abordagem
enfatiza a importância do social na construção de conhecimentos
que o
indivíduo faz durante sua vida, nas e pelas relações que estabelece. A
aprendizagem nesta concepção está diretamente vinculada as interações que se
estabelecem entre o indivíduo, o meio e
o outro.
Irá discordar
também da visão ambientalista, pois para ele o homem não é resultado de um
determinismo cultural. Ou seja, o homem não é ser passivo diante das ações do
meio.
Para ele, o
sujeito as características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir da
constante interação com o meio, entendido como mundo social e físico e que
inclui as dimensões culturais e trocas recíprocas. Logo para ele, o sujeito não
é ativo nem passivo, mas interativo.
Ø
Pressupostos de sua teoria sobre os planos
genéticos do desenvolvimento:
Filogênese - Refere-se à história de toda espécie
animal. Por exemplo: Somos capazes de
realizar algumas coisas e outras não. Nós andamos, mas não voamos.
Ontogênese – Refere-se ao
desenvolvimento do ser; ao mundo individual de cada espécie: nascer, crescer,
reproduzir, morrer.
Exemplo: A
criança ao nascer só é capaz de ficar deitada. Com o tempo ela senta,
engatinha,
anda...
Ø
Estes dois primeiros fatores estão atrelados à
espécie.
Sociogênese- Refere-se à história da cultura, onde o
sujeito está inserido.
Exemplo: a
puberdade é compreendida de diferentes maneiras em diferentes grupos culturais.
Microgênese- Diz respeito ao fato de cada pequeno
fenômeno ter a sua história. Não existem duas histórias iguais. Refere-se à
singularidade do sujeito.
Exemplo: Não
saber amarrar sapatos e como aprender a amarrá-los. Cada criança terá seu modo
de aprender a executar esta tarefa
Ø
A sociogênese e a microgênese estão atrelados à
cultura.
O Método
Para compreendermos os princípios que
nortearam as idéias deste autor, teremos que entender o método por ele
utilizado para estudar o sujeito. Para isto recorremos a Góes quando explicita
que:
Vygotsky propõe um programa metodológico que
consiste em estudar o comportamento em mudança e as condições sociais de
produção dessa mudança... assim estudar o comportamento em mudança não é
privilegiar a seqüência de procedimentos
que geram a mudança, num paradigma de sujeito passivo, nem estudar a seqüência
de modos de ação do sujeito, num paradigma de sujeito apenas ativo. É
focalizar, num momento dado, a
relação entre o nível de capacidade do
sujeito e suas relações sujeitos que podem afetar seus conhecimentos,
estratégias... ( 1991:pp. 21-22).
A influência do
materialismo dialético
O materialismo histórico dialético
concebido por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) buscam
a compreensão do real para a construção
de conhecimentos e para o entendimento do homem. Para eles, os fenômenos
materiais são processos.
De acordo com este pressuposto, toda história humana é a existência de indivíduos que na luta pela
sobrevivência organizam-se em torno do trabalho estabelecendo relações entre si
e com a natureza. Assim, as relações construídas entre o homem e a natureza
transformam o homem e a natureza, criando novas condições para sua existência.
Assim, é através do trabalho que o homem atua sobre a natureza. Foi a necessidade de intercâmbio entre os homens
no processo de trabalho que possibilitou o aparecimento da linguagem como
veículo de comunicação e de apropriação do conhecimento historicamente
construído pela humanidade.
Ao construírem um sistema que tenta
explicar a história da sociedade, Marx e Engels estabeleceram princípios
epistemológicos que serviram para
orientar suas análises. Assim, na perspectiva
dialética sujeito e objeto de conhecimento se relacionam de modo recíproco (um
depende do outro) e se constituem num processo histórico-social.
Fundamentamos
estas idéia em Rego quando nos diz:
De acordo com esses postulados, deve-se
partir da atividade real do homem para
estudar o processo de desenvolvimento intelectual. Marx e Engels propõem o
método dialético-materialista para qual o pensamento analítico deve tomar como
ponto de partida, e de chegada, a prática dos homens historicamente situados. (1995:98).
Procedimentos Utilizados nas
pesquisas de Vigotsky:
-
Entrevista clínica de Piaget
-
Métodos comparativos
-
Estudo de caso clínico
Diretrizes metodológicas:
-
Método experimental
-
Método genético-experimental
As raízes genéticas do
pensamento e da linguagem
Para Vygotsky e colaboradores, a atividade humana se difere
acentuadamente dos animais. Ele se opõe
a visão zoologizada de homem amplamente difundida em estudos de psicologia em
sua época.
Observou que nos antropóides a
fala e o pensamento têm origens diferentes e seguem cursos diferentes no seu
desenvolvimento. Nos chimpanzés, o pensamento não está relacionado com a fala.
O estudo com este grupo de animais provou que estes apresentam rudimentos
intelectuais semelhantes ao homem. Entretanto, nos chimpanzés a linguagem
funciona separada do intelecto.
Sobre o estudo com os antropóides
observou-se:
Ø
Pensamento e fala têm raízes diferentes;
Ø
As duas funções se desenvolvem ao longo de
trajetórias diferentes e independentes;
Ø
Não há relação clara e constante entre elas;
Ø
Os antropóides apresentam um intelecto parecido
com o humano, em certos aspectos ( o uso embrionário de instrumentos), e
uma linguagem semelhante à do homem, em
aspectos totalmente diferentes (o aspecto fonético da sua fala, sua
função de descarga emocional e o início de uma função social);
Ø
A estreita correspondência entre o pensamento e
a fala, existente nos humanos, não existe nos antropóides.
Nos seres
humanos, acredita Vygotsky, a fala inicialmente difere do intelecto. O
pensamento é não-verbal e a fala, não-intelectual.
A criança
descobre que cada coisa tem seu nome e
começa a perguntar como se chama cada objeto.
Baseado nos
estudos realizados por Stern, Vygotsky irá afirmar que pensamento e fala se
desenvolvem ao longo de linhas distintas e que num certo ponto se
encontram e se tornam interdependentes.
O Instrumento e o signo
Segundo a abordagem
sócio-cultural, a relação entre o homem e o meio é sempre mediada por produtos
culturais humanos, como o instrumento e o signo e pelo “outro”.
O uso de instrumentos: Pode-se
considerar, nesta abordagem, o instrumento como tudo aquilo que se interpõe
entre o homem e o ambiente, ampliando e modificando suas ações. Os instrumentos
acabam transformando o próprio comportamento humano, que deixa de ser uma ação
direta sobre o meio controlada apenas pela relação entre as necessidades de sobrevivência e o ambiente.
O instrumento amplia os modos de ação naturais do homem e seu alcance.
O uso de signos: O signo é comparado
por Vygotsky ao instrumento e denominado
por ele “instrumento psicológico”.
Tudo o que é
utilizado pelo homem para representar, evocar, constitui o signo: a palavra, o
desenho, os símbolos, dentre outros.
Enquanto o
instrumento está orientado externamente, ou seja, para a modificação do
ambiente, o signo é internamente orientado, modificando o funcionamento
psicológico do homem.
Pensamento e Linguagem
Para Vygotsky a linguagem é o sistema de signos mais
importante para o homem.
Ele
entende que a fala da criança é tão
importante quanto a ação por ela desenvolvida para atingir um certo objetivo.
As crianças não ficam simplesmente falando o que estão fazendo, sua fala e sua
ação participam de uma mesma função psicológica complexa dirigida para a
solução do problema em questão.
Para ele,
quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução,
maior a importância que a fala adquire na operação como um todo.
A fala
entretanto, ajuda a organizar o pensamento e o próprio comportamento humano.
Este autor percebe a fala
egocêntrica e a fala interiorizada:
Fala
egocêntrica é uma transição entre a fala exterior e a interior. Funcionalmente,
a fala egocêntrica é a base da fala
interior – enquanto que sua forma externa está incluída na fala comunicativa. A fala egocêntrica está
ligada à fala social.
A maior
mudança na capacidade das crianças para usar a linguagem como um instrumento
para a solução de problemas acontece mais adiante, no momento da fala
socializada ( que já foi previamente utilizada para dirigir-se a um adulto) é a
fala internalizada.
Inicialmente, a fala segue a
ação, sendo provocada e dominada pela atividade. Depois a fala se desloca para
o início da atividade, emerge uma nova relação entre palavra e ação. Surge daí
a função planejadora da fala.
O papel do outro e a
internalização
Será a partir
de suas relações com o outro, que a
criança se apropria das significações socialmente construídas. Desse
modo, é o grupo social que por meio da linguagem e das significações,
possibilita o acesso a formas culturais de perceber e estruturar a realidade. A
partir de suas relações com o outro, a criança reconstrói internamente
as formas culturais de ação e pensamento, assim como as significações e
o uso da palavra que foram com ela compartilhados. A este processo interno de
reconstrução de uma operação interna, Vygotsky denominou internalização.
A abordagem histórico-cultural
considera que toda função psicológica se desenvolve em dois planos:
Primeiro a relação entre indivíduos e
depois, no próprio indivíduo.
Assim o
processo de desenvolvimento parte do social para o individual.
Zona de
desenvolvimento Proximal
Para entender
a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, em Vigotsky, torna-se
necessária a compreensão do conceito de zona de desenvolvimento proximal.
Segundo
Vygotsky, a psicologia sempre se preocupou em detectar o nível de
desenvolvimento real do indivíduo, ou seja, aquele que revela a possibilidade
de uma atuação independente do sujeito. Um exemplo disto é o uso de testes ou
escalas por alguns psicólogos, visando detectar o nível de desenvolvimento do
indivíduo.
Na abordagem
histórico-cultural, o desenvolvimento humano é bem mais que a pura formação de conexões reflexas ou
associativas pelo cérebro. É muito mais um desenvolvimento social que envolve
portanto, uma interação e uma mediação qualificada entre a criança e o educador
( pais, avós, colega, professor).
Assim, a
conduta humana não deve ser imaginada em processos reativos e jamais pode
subestimar ou reduzir o papel transformador do sujeito em sua aprendizagem. A
aprendizagem depende portanto, do desenvolvimento prévio, mas também do
desenvolvimento proximal do aprendiz.
Para Vygotsky,
é justamente na Zona de desenvolvimento proximal (ZPD) que pode produzir-se o
aparecimento de novas maneiras de pensar e onde, graças á ajuda de outras
pessoas, pode desencadear-se o processo de modificação de esquemas de
conhecimentos que se tem, construindo assim, novos saberes.
Vygotsky postula que:
O que cria ZPD é um traço essencial da
aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta uma série de processos evolutivos internos capazes de
operar quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em
cooperação com algum semelhante. Uma vez que esses processos tenham se
internalizado, tornando-se parte das conquistas independentes da criança.
(1995:96).
Quando alguém não consegue
realizar sozinho determinada tarefa, mas o faz com a ajuda de outros parceiros
mais experientes, está nos revelando o seu nível de desenvolvimento proximal,
que já contém aspectos e partes mais ou menos desenvolvidas de instituições,
noções e conceitos.
Portanto, o
nível de desenvolvimento mental de um aluno, não pode ser determinado apenas pelo que consegue
produzir de forma independente; é necessário conhecer o que muito embora ainda
necessite do auxílio de outras pessoas para fazê-lo consegue realizar.
O papel da brincadeira
no desenvolvimento infantil
Vygotsky percebe a brincadeira como um recurso que possibilita a transição
da estreita vinculação entre significado e objeto à operação com significados
separados do objeto. A transição se dá quando a criança age com um objeto como
se fosse outro. Assim, separa do objeto real e concreto o significado. Para
isto ele carece de um objeto substituto.
O brincar não evolui apenas no
sentido de manifestar uma capacidade
simbólica, mas também no sentido de começar a ocorrer uma certa coordenação
espaço-temporal entre as ações da criança e o
mundo. O brincar se enriquece com
o início da capacidade que a criança revela de conseguir planejar e ordenar no
tempo as suas ações.
As brincadeiras do bebê estão nitidamente ligadas ao seu próprio corpo.
Então podemos afirmar com bases nos estudos de Zorzi:
A brincadeira torna-se verdadeiramente
representativa quando a criança começa a usar substitutos simbólicos que podem
corresponder a objetos, gestos e palavras... desta forma, a capacidade
representativa se completa quando um objeto pode ser transformado em outro, ou
quando gestos e palavras sustentam, ou criam, ficticiamente, um fato ausente.
(1998:10).
Vygotsky sustenta a idéia na qual numa situação imaginária como o
faz-de-conta, a criança é levada a agir num mundo imaginário (dirigir um carro,
por exemplo), é definido pelo significado que a criança está dando à
brincadeira e não pelos elementos reais concretos presentes ( a sala onde
brinca, as cadeiras, e assim por diante).
Kohl afirma
que no brinquedo a criança comporta-se de
forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a
separar objeto e significado”. (1993:67)
O papel da escolarização
O modo como
Vygotsky concebia e analisava o desenvolvimento humano, levou-o a discutir explicitamente a papel da
escolarização. Ele considerou as especificidades das relações de conhecimento
produzidos na escola, distinguindo-os das relações de conhecimentos cotidianos.
Algumas obras abordam estas relações como conceitos científicos e conceitos
cotidianos.
Embora chegue
à escola já dominando inúmeros conhecimentos e modos de elaboração intelectual
necessárias à elaboração dos conhecimentos científicos sistematizados, durante
o processo de educação escolar a criança realiza a reelaboração desses
conceitos mediante o estabelecimento de uma nova relação cognitiva com o mundo
e com o seu próprio pensamento.
Destaca ainda
que a educação escolarizada e o professor têm um papel singular no
desenvolvimento do indivíduo. Fazendo juntos, demonstrando, dando pistas, o
educador interfere na ZPD de seus alunos, contribuindo para a emergência de
processos de elaboração e de desenvolvimento que não ocorreriam
espontaneamente. A ação do educador é planejada e consciente.
Assim, a
escola possibilitando o contato sistemático e intenso dos indivíduos com os
sistemas organizados de conhecimento e fornecendo a eles instrumentos para elaborá-las
mediatiza seus processo de desenvolvimento.
Para Vygotsky (1984) :
a escola é o lugar da produção social de signos e é por meio da
linguagem que se delineia a possibilidade da construção de ambientes
educacionais com espaço para criação, descoberta e apropriação da ciência
produzida pela história humana.
Vygotsky e a Educação Especial
As
investigações de Vygotsky não se voltaram apenas para o desenvolvimento e a
aprendizagem dos alunos ditos “normais”. Atribuindo grande importância à
Educação Esécial, coordenou e desenvolveu pesquisas neste campo, tendo atuado
com crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais (física,
visual, mental, auditiva e múltipla), no Instituto Experimental de Defectologia
(termo utilizado na Rússia no início do século passado, para se referir ao
trabalho desenvolvido com pessoas portadoras de deficiências).
Segundo afirma
o autor:
“A educação
para estas crianças deveria se basear na organização de suas funções e em
características mais positivas, ao invés de se basear em seus aspectos mais
deficitários” (1987:28).
Para
Vygotsky, qualquer fator negativo no
organismo desencadeia processos defensivos. O organismo pode ativar suas
reservas de força para compensar o fator negativo. Frente à deficiência,
emergem tendências psicológicas combativas e o potencial para superação. Essa
capacidade de plasticidade do funcionamento criança está no primeiro plano de
desenvolvimento.
Para ele, o
destino da pessoa não está decidido pela existência de uma deficiência, mas
pelas conseqüências sociais, por sua realização sócio-psicológica.
Vygotsky parte
da idéia de o “outro” deve mediar a relação com a pessoa com necessidades
especiais. E a prática pedagógica que tome como ponto de partida a deficiência
em si apresentada como pressuposto, a
dificuldade, através da modelagem de comportamentos, ou do desenvolvimento de
atividades de caráter funcional, apenas. Previamente, determina-se o que a
pessoa portadora de deficiência não pode alcançar,
Se, ao
contrário, ao invés de não “reduzirmos”, as possibilidades destas pessoas,
atuando num processo de interação constante, procuramos com elas as vias de
acesso à constituição de conhecimentos e valores, estaremos possibilitando que
aprenda e se desenvolva, apesar da deficiência, sem previamente determinarmos
até onde terá condições de caminhar... ou ir além.
Considerações finais
Vygotsky
apresenta-se atual e desafiador aos olhos do educador dos dias atuais.
Além de ter
formulado inúmeros conceitos e criado juntamente com os seus colaboradores uma
nova abordagem psicológica, este jovem escritor, pesquisador, professor esteve
preocupado em entender a relação entre as idéias que as pessoas desenvolvem,
dizem ou escrevem.
O seu nome dificilmente
deixa de aparecer em qualquer discussão
séria sobre o processo de aprendizagem.
Bibliografia
ANTUNES, Celso.
(2002) Vygotsky, quem diria?! Em
minha sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes. (fascículo 12).
FONTANA,
Roseli. CRUZ. Maria Nazaré. (1997). Psicologia
e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual (Formação do Educador).
______________
(1995). A elaboração conceitual : A
dinâmica das interlocuções
na sala de
aula. In: A. L. B. SMOKA e GÓES, Maria Cecília (orgs). A linguagem e o
outro no espaço escolar. Campinas: Papirus
GÓES, Maria
Cecília. (1991). A natureza social do
desenvolvimento psicológico.
Caderno
CEDES n.24, Campinas, SP: Papirus.
OLIVEIRA,
Marta Kohl de. (1993). Vygotsky Aprendizado e desenvolvimento: Um processo
Sócio-histórico. São Paulo: Scipione
(Coleção Mestres da Educação).
REGO. Teresa
Cristina. (1995). Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis:RJ: Vozes .(Educação e
Conhecimento).
VIGOTSKY. L.
S. (1998). A formação social da mente. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes
(Psicologia e Pedagogia).
_______________.
(!998). Pensamento e Linguagem.
2. ed. São Paulo: Martins Fontes.
ZORZI, Jaime
Luiz. Intervenção fonoaudiológica nas alterações da fala infantil.
(1998). Revinter