quinta-feira, 12 de março de 2015

O TEMPO E A ESCOLA

O TEMPO E A ESCOLA

O tempo e a escola
Warlen Fernandes 



Eis o momento! Começando nesta porta,
um longo e eterno caminho mergulha no
passado: atrás de nós está uma eternidade!
Não será verdade que todos os que podem andar
têm de já ter percorrido este caminho?
(F. Nietzsche)


Este texto se propõe a uma breve interlocução com o leitor sobre a categoria tempo. Tempo vivido e cooptado no fazer docente.


Vivemos em uma sociedade capitalista, frente a qual quase tudo tem conotação financeira e econômica. Pouco daquilo que produzimos escapa a este olhar mercantil, a esta visão mercadológica.


Assim, nos propusemos a entender ou suscitar questões que nos faça questionar o tempo escolar.


A questão do tempo é bíblica "Há tempo de plantar, há tempo de colher..." (ECLESIASTES). Será este o nosso momento de colheita? Será este o momento em que estamos colhendo enquanto educadores as mazelas de um passado não muito distante onde o embate entre a técnica e o político fazia-se presente?


O trânsito da discussão passará pelo viés do tempo curricular. Aquele que não se esgota quando as nossas aulas terminam.

PARA CASA: O TEMPO DO PROFESSOR
A questão do tempo escolar mostrou-se fascinante para mim quando comecei a ler "Crítica da organização do trabalho de Didática" (Luiz Carlos Freitas). O autor tece uma análise que envolve e nos faz parar para refletirmos sobre a questão tempo/espaço/escola.

Muito frequentemente vemos o nosso tempo reduzido, massacrado por um currículo gradeado que sutilmente nos empurra serviço para casa. Penso que talvez o professor seja um destes poucos profissionais que levam trabalho para casa sem se importar com isto.


Qual dos leitores sendo professor não, deixou a ida ao cinema, a visita a um amigo, em função de estar corrigindo provas ou trabalhos? Ou talvez fazendo o seu Plano de Curso, o seu relatório?

Falo nisso com muita serenidade porque o livro acima citado nos faz pensar que não dá para pensar o trabalho pedagógico sem antes pensar nas condições reais no qual ele se concretiza. 


Evidentemente não podemos discutir a categoria tempo sem entender que será através desta categoria que fazemos a organização de nosso trabalho, organizamos a nossa rotina. Dividimos o conteúdo, organizamos as avaliações e seus diversos instrumentos em torno de cinqüenta minutos ou mais. Será neste tempo (hora/aula) e neste espaço (escola) que estabelecemos relações de amizades, diga-se de passagem, aligeirada às vezes... "A gente conversa mais tarde, estou sem tempo, vamos marcar um café..."


Não há como pensar em um Currículo vivo sem considerar a formação total do ser. Ah, mas isto demanda tempo.


Veja-se o que nos diz CUNHA: "De fato, em seu trabalho cotidiano os educadores deparam com problemas práticos que demandam compreensão de questões de fundo. (2004, p. 07).


Ler nas entrelinhas e deslocar o nosso olhar do ingênuo para o crítico é um exercício necessário.

O tempo entendido como uma categoria a ser refletida e estudada, incide na percepção de que fazemos muito mais além do tempo real para o qual somos chamados a atuar.


Não faço apologia ao trabalho docente como mais-valia, na concepção marxista. Mas reflito sobre o que nos permitimos e sobre o que nos é cobrado formal e informalmente.


Finalizando...

Procurarei esboçar minhas idéias ainda em processo de gestação, e que delas sujam outras e outras.  Que fique a contribuição para que o tempo possa ser debatido, dialogado e entendido, e sobretudo respeitado. 


Não pretendi aqui tecer elos com a questão filosófica, antropológica ou política que a questão permite. Busquei apenas levar um pouco de minhas inquietações docentes ao leitor.


Enfim, a atual conjuntura requer empreendimentos rápidos, maduros, seguros, decisões a serem tomadas em pouco tempo. Certamente para nós educadores, esta questão perpassa por caminhos que nos farão continuar esta discussão.


BIBLIOGRAFIA:
FREITAS, L. C. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. Campinas: Papirus, 1995.
GONÇALVES, E. P. (org). Currículo e contemporaneidade: questões emergentes. Alínea: Campinas, SP, 2004.

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