quinta-feira, 30 de abril de 2015

RELAÇÕES FAMILIARES E CONTEXTO ESCOLAR


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Ser pai e mãe em nossa cultura é cumprir para além dos laços afetivos,  representações sociais. Ao gerar uma criança,  o casal vê-se diante de expectativas pessoais e de outrem.
Ao conceber uma criança deficiente, os pais podem sentir que “falharam”, sentem-se culpados, muitas vezes envergonhados e sozinhos. Com quer compartilhar esta experiência? Perguntam-se.  Muitos pais ficam  na expectativa a encontrarem um fio de luz, que responda  aos motivos que os contemplam em ter um filho deficiente. A não correspondência ao filho sonhado traz consigo um forte estigma: como lidar com a diferença?
Esta ambivalência de sentimentos, os  faz perder de vista que  a vida acontece no dia-a-dia. Que para estes pais, será necessário uma  reestruturação das tarefas de seu cotidiano.
Ao perceberem a deficiência, deixam de lado, todo resto. O que pode provocar uma ruptura inclusive no equilíbrio do casal. Concordamos com Buscaglia ao enfatizar que  “ter um filho não faz de ninguém um pai” (1993, p. 81). Será preciso o envolvimento, o encorajamento e o compromisso com este novo papel a ser desempenhado.
Em muitos casos, o comportamento super protetor  dos pais,  leva o filho a ser tratado como uma eterna criança. A ênfase é dada  naquilo que parece faltar e não naquilo que é possível atingir.
Não estamos falando da negação da deficiência, mas de sua não aceitação. A criança deficiente é muitas vezes vítima destas representações sociais e, o seu não “enquadramento” ao ideal do filho sonhado.
O nosso papel enquanto educadores  será a de acolher também a esta família e não a de reforçar as suas inseguranças. Será nossa tarefa também estimular a criança e apresentar devolutivas (positivas) para esta família.
Enfim, independente dos arranjos sociais aos quais  a criança deficiente pertença, a família deve participar ativamente do processo formativo global deste filho.

   Estabelecimento de laços entre os pais e o bebê – favorece o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo – propicia aos pais o sentimento de serem pais “ suficientemente bons” para aquele bebê.


A relação entre pais é filhos é construída no cotidiano. Os laços familiares se formam à  medida em que há o envolvimento entre as partes. Diante daquilo que não conhece (os aspectos da deficiência) os pais julgam-se incapazes de cuidar da criança.
Esta insegurança pode ser repassada para o bebê e em muitos casos, resulta na falta de atenção ou em seu oposto: super proteção.

Os pais de filhos sem deficiência não  se preocupam tanto com o fato de serem ou não bons pais para aquele filho, pois há uma estrada já percorrida por outros pais e que oferece uma certa segurança para ajudarem sua criança a ser uma pessoa capaz de enfrentar as adversidades da vida. Aos pais de crianças deficientes será preciso aprender a lidar com a deficiência e reelaborar as suas expectativas frente ao novo. Daí vem o receio de falharem. Muitas vezes será papel dos especialistas que lidam com esta família (médicos, professores, assistentes sociais, dentre outros) esclarecer pontos relevantes e propor novas formas para o fortalecimento de vínculos.

LEV SEMYONOVITCH VYGOTSKY

Lev Semyonovitch Vygotsky



Perfil:

Ø  De origem judaica, nasceu no dia 5 de novembro de 1896  em Orsha – Bielo Rússia - (algumas obras registram o seu nascimento no dia 17 de novembro. Isto ocorre devido a alteração ocorrida no calendário Russo pós-revolução).
Ø  Segundo filho de uma família de oito irmãos, Vygotsky era familiarmente privilegiado  no âmbito cultural e financeiro.
Ø  O seu pai era banqueiro e sua mãe professora (embora não exercesse a profissão foi ela quem lhe ensinou alguns dos idiomas aos quais dominava). Possuíam uma vasta biblioteca, sempre aberta aos amigos da família.
Ø  Até os 14 anos Vygotsky foi educado em casa por matemático judeu chamado Salomn Ashpiz . Aos 15 anos ingressa no ensino formal.
Ø  Entrou para a faculdade de Medicina, mas acabou trocando por Direito, formando-se em 1917,  pela Universidade de Moscou.
Ø  Retornou à Medicina quando já era um psicólogo  de renome porque queria bases neurofisiológicas para o estudo da mente que vinha  desenvolvendo. Também estudou Filosofia, História, Lingüistica e Artes. O seu primeiro trabalho científico publicado foi  A Psicologia da Arte.
Ø  A  fluência em idiomas como latim por exemplo, permitiram-lhe o acesso a várias obras estrangeiras.
Ø  Casou-se aos 28 anos e teve duas filhas.
Ø  Com ideais marxistas, formou grupo de estudo e pesquisa com Leontiev e Luria.
Ø  Interessou-se em estudar a deficiência  e aprofundou estudos nesta área. Foi membro fundador do Instituto de Defectologia de Moscou.
Ø  Diferentemente de Freud, a contribuição deste autor para as artes, foi percebê-la enquanto processo social e não apenas como  uma manifestação do inconsciente.
Ø  Suas obras foram censuradas num período compreendido entre 1936 a 1956 devido ao extremo fechamento político que cercou a produção científica  na então União Soviética.
Ø  Acometido pela tuberculose em 1920, sofreu várias internações e faleceu no dia 11 de junho de 1934, aos 37 anos. Deixando mais de 200 estudos científicos escritos.

Principais Linhas de Estudo


Ø  A crise  da psicologia
Ø  A psicologia da arte
Ø  Diferenças entre o psiquismo animal e humano
Ø  Problemas das deficiências físicas e mentais
Ø  As relações entre pensamento e linguagem
Ø  A evolução da escrita na criança
Ø  A Mediação Simbólica
Ø  As relações entre desenvolvimento e aprendizagem
Ø  O brinquedo

O foco de suas preocupações

Ø  O desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana como resultado de um processo sócio-histórico.  A origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo de seu desenvolvimento, está, segundo seus princípios, na sociedade, na Cultura e na sua História.

 



INTRODUÇÃO

Os trabalhos de Vygotsky constituem uma rica fonte de estudos e reflexões para conciliar as experiências culturais com o desenvolvimento cognitivo.

Enfatizou a origem social  do pensamento e da linguagem, bem como percebeu o desenvolvimento cognitivo como uma aquisição cultural.

Será estudando as funções psicológicas superiores no plano social e no plano individual que este autor situa tais funções como transformações internalizadas  de padrões sociais de interação interpessoal.

Suas análises o levaram a  constatar que, enquanto os animais agem e reagem à natureza de uma forma sensorial instintiva e obedecendo aos fatores biológicos de sua espécie, o homem  extrapola suas capacidades sensoriais e age de forma ativa e consciente, interagindo com seu meio social, transformando-o para atender às suas necessidades e sendo transformado por ele.

Inspirado pela teoria marxista, Vygotsky defendia que o desenvolvimento psicológico seria produto das relações de trabalho que os homens criam em um grupo social. Sendo pois, o trabalho uma atividade humana nascida da necessidade  de sobrevivência e de dominação  daquilo que os homens entendiam inicialmente, como força da natureza. Neste aspecto, o homem desenvolveu instrumentos (a pá, o fogo, a roda, a flecha, dentre outros ) que lhe permitia transformar a natureza e criar produtos materiais. Ao mesmo tempo, no esforço de transformação da natureza, o homem também se transformou criando novas habilidades e um mundo simbólico necessário à comunicação e divisão de tarefas. Em especial, o homem cria a linguagem – que revolucionou a forma como até então se relacionava com o mundo -. Esses produtos da atividade humana no trabalho juntamente com os produtos materiais, constituem a cultura humana.

Assim, a teoria sócio-histórica contribui para ampliar  horizontes tanto no campo da psicologia, neuroligüística, como no campo educacional. Será neste sentido que enfocaremos o presente estudo: pretendendo lançar um novo olhar em relação à criança e consequentemente em relação à prática pedagógica.

A abordagem sócio-interacionista de Vygotsky

Vygotsky surge no campo da psicologia rejeitando os modelos inatistas.
Ele ressalta que o ser humano nasce e se desenvolve num meio social e cultural.
Esta abordagem enfatiza a importância do social na construção de conhecimentos
que o indivíduo faz durante sua vida, nas e pelas relações que estabelece. A aprendizagem nesta concepção está diretamente vinculada as interações que se estabelecem entre  o indivíduo, o meio e o outro.
Irá discordar também da visão ambientalista, pois para ele o homem não é resultado de um determinismo cultural. Ou seja, o homem não é ser passivo diante das ações do meio.
Para ele, o sujeito as características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir da constante interação com o meio, entendido como mundo social e físico e que inclui as dimensões culturais e trocas recíprocas. Logo para ele, o sujeito não é ativo nem passivo, mas interativo.
Ø  Pressupostos de sua teoria sobre os planos genéticos do desenvolvimento:
Filogênese -  Refere-se à história de toda espécie animal.  Por exemplo: Somos capazes de realizar algumas coisas e outras não. Nós andamos, mas não voamos.
Ontogênese – Refere-se ao desenvolvimento do ser; ao mundo individual de cada espécie: nascer, crescer, reproduzir, morrer.
Exemplo: A criança ao nascer só é capaz de ficar deitada. Com o tempo ela senta,
engatinha, anda...
Ø  Estes dois primeiros fatores estão atrelados à espécie.

Sociogênese-  Refere-se à história da cultura, onde o sujeito está inserido.
Exemplo: a puberdade é compreendida de diferentes maneiras em diferentes grupos culturais.
Microgênese-  Diz respeito ao fato de cada pequeno fenômeno ter a sua história. Não existem duas histórias iguais. Refere-se à singularidade do sujeito.
Exemplo: Não saber amarrar sapatos e como aprender a amarrá-los. Cada criança terá seu modo de aprender a executar esta tarefa

Ø  A sociogênese e a microgênese estão atrelados à cultura.

O Método

 Para compreendermos os princípios que nortearam as idéias deste autor, teremos que entender o método por ele utilizado para estudar o sujeito. Para isto recorremos a Góes quando explicita que:
Vygotsky propõe um programa metodológico que consiste em estudar o comportamento em mudança e as condições sociais de produção dessa mudança... assim estudar o comportamento em mudança não é privilegiar a seqüência  de procedimentos que geram a mudança, num paradigma de sujeito passivo, nem estudar a seqüência de modos de ação do sujeito, num paradigma de sujeito apenas ativo. É focalizar, num momento dado, a
relação entre o nível de capacidade do sujeito e suas relações sujeitos que podem afetar seus conhecimentos, estratégias... ( 1991:pp. 21-22).

A influência do materialismo dialético

O materialismo  histórico dialético concebido por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) buscam a  compreensão do real para a construção de conhecimentos e para o entendimento do homem. Para eles, os fenômenos materiais são processos.

De acordo com este pressuposto, toda  história humana é  a existência de indivíduos que na luta pela sobrevivência organizam-se em torno do trabalho estabelecendo relações entre si e com a natureza. Assim, as relações construídas entre o homem e a natureza transformam o homem e a natureza, criando novas condições para sua existência. Assim, é através do trabalho que o homem atua sobre a natureza. Foi  a necessidade de intercâmbio entre os homens no processo de trabalho que possibilitou o aparecimento da linguagem como veículo de comunicação e de apropriação do conhecimento historicamente construído pela humanidade.

Ao construírem um sistema que tenta  explicar a história da sociedade, Marx e Engels estabeleceram princípios epistemológicos que  serviram para orientar  suas análises. Assim, na perspectiva dialética sujeito e objeto de conhecimento se relacionam de modo recíproco (um depende do outro) e se constituem num processo histórico-social.

Fundamentamos estas idéia em Rego quando nos diz:

       De acordo com esses postulados, deve-se partir da atividade real do homem  para estudar o processo de desenvolvimento intelectual. Marx e Engels propõem o método dialético-materialista para qual o pensamento analítico deve tomar como ponto de partida, e de chegada, a prática dos homens historicamente situados. (1995:98).

Procedimentos Utilizados nas pesquisas de Vigotsky:
-          Entrevista clínica de Piaget
-          Métodos comparativos
-          Estudo de caso clínico

Diretrizes metodológicas:
-          Método experimental
-          Método genético-experimental




As raízes genéticas do pensamento e da linguagem

Para Vygotsky e colaboradores, a atividade humana se difere acentuadamente  dos animais. Ele se opõe a visão zoologizada de homem amplamente difundida em estudos de psicologia em sua época.

Observou que nos antropóides  a fala e o pensamento têm origens diferentes e seguem cursos diferentes no seu desenvolvimento. Nos chimpanzés, o pensamento não está relacionado com a fala. O estudo com este grupo de animais provou que estes apresentam rudimentos intelectuais semelhantes ao homem. Entretanto, nos chimpanzés a linguagem funciona separada do intelecto.

Sobre o estudo com os antropóides observou-se:
Ø  Pensamento e fala têm raízes diferentes;
Ø  As duas funções se desenvolvem ao longo de trajetórias diferentes e independentes;
Ø  Não há relação clara e constante entre elas;
Ø  Os antropóides apresentam um intelecto parecido com o humano, em certos aspectos ( o uso embrionário de instrumentos), e uma  linguagem semelhante à do homem, em aspectos totalmente diferentes (o aspecto fonético da sua fala, sua função de descarga emocional e o início de uma função social);
Ø  A estreita correspondência entre o pensamento e a fala, existente nos humanos, não existe nos antropóides.

Nos seres humanos, acredita Vygotsky, a fala inicialmente difere do intelecto. O pensamento é não-verbal e a fala, não-intelectual.
A criança descobre que cada coisa  tem seu nome e começa a perguntar como se chama cada objeto.
Baseado nos estudos realizados por Stern, Vygotsky irá afirmar que pensamento e fala se desenvolvem ao longo de linhas distintas e que num certo ponto se encontram  e se tornam interdependentes.


O Instrumento e o signo

Segundo a abordagem sócio-cultural, a relação entre o homem e o meio é sempre mediada por produtos culturais humanos, como o instrumento e o signo e pelo “outro”.

O uso de instrumentos: Pode-se considerar, nesta abordagem, o instrumento como tudo aquilo que se interpõe entre o homem e o ambiente, ampliando e modificando suas ações. Os instrumentos acabam transformando o próprio comportamento humano, que deixa de ser uma ação direta sobre o meio controlada apenas pela relação entre as  necessidades de sobrevivência e o ambiente.
O instrumento amplia os modos de ação naturais do homem e seu alcance.

O uso de signos: O signo é comparado por  Vygotsky ao instrumento e denominado por ele “instrumento psicológico”.
Tudo o que é utilizado pelo homem para representar, evocar, constitui o signo: a palavra, o desenho, os símbolos, dentre outros.
Enquanto o instrumento está orientado externamente, ou seja, para a modificação do ambiente, o signo é internamente orientado, modificando o funcionamento psicológico do homem.





Pensamento e Linguagem

Para Vygotsky a linguagem é o sistema de signos mais importante para o homem.

Ele entende  que a fala da criança é tão importante quanto a ação por ela desenvolvida para atingir um certo objetivo. As crianças não ficam simplesmente falando o que estão fazendo, sua fala e sua ação participam de uma mesma função psicológica complexa dirigida para a solução do problema em questão.
Para ele, quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior a importância que a fala adquire na operação como um todo.
A fala entretanto, ajuda a organizar o pensamento e o próprio comportamento humano.
Este autor percebe a fala egocêntrica e a fala interiorizada:
Fala egocêntrica é uma transição entre a fala exterior e a interior. Funcionalmente, a fala egocêntrica  é a base da fala interior – enquanto que sua forma externa está incluída  na fala comunicativa. A fala egocêntrica está ligada à fala social.
A maior mudança na capacidade das crianças para usar a linguagem como um instrumento para a solução de problemas acontece mais adiante, no momento da fala socializada ( que já foi previamente utilizada para dirigir-se a um adulto) é a fala internalizada.
Inicialmente, a fala segue a ação, sendo provocada e dominada pela atividade. Depois a fala se desloca para o início da atividade, emerge uma nova relação entre palavra e ação. Surge daí a função planejadora da fala.


O papel do outro e a internalização

Será a partir de suas relações com o outro, que a  criança se apropria das significações socialmente construídas. Desse modo, é o grupo social que por meio da linguagem e das significações, possibilita o acesso a formas culturais de perceber e estruturar a realidade. A partir de suas relações com o outro, a criança reconstrói  internamente  as formas culturais de ação e pensamento, assim como as significações e o uso da palavra que foram com ela compartilhados. A este processo interno de reconstrução de uma operação interna, Vygotsky denominou internalização.
A abordagem histórico-cultural considera que toda função psicológica se desenvolve em dois planos:
        Primeiro a relação entre indivíduos e depois, no próprio indivíduo. 
Assim o processo de desenvolvimento parte do social para o individual.


Zona de desenvolvimento Proximal

Para entender a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, em Vigotsky, torna-se necessária a compreensão do conceito de zona de desenvolvimento proximal.

Segundo Vygotsky, a psicologia sempre se preocupou em detectar o nível de desenvolvimento real do indivíduo, ou seja, aquele que revela a possibilidade de uma atuação independente do sujeito. Um exemplo disto é o uso de testes ou escalas por alguns psicólogos, visando detectar o nível de desenvolvimento do indivíduo.

Na abordagem histórico-cultural, o desenvolvimento humano é bem mais que  a pura formação de conexões reflexas ou associativas pelo cérebro. É muito mais um desenvolvimento social que envolve portanto, uma interação e uma mediação qualificada entre a criança e o educador ( pais, avós, colega, professor).

Assim, a conduta humana não deve ser imaginada em processos reativos e jamais pode subestimar ou reduzir o papel transformador do sujeito em sua aprendizagem. A aprendizagem depende portanto, do desenvolvimento prévio, mas também do desenvolvimento proximal do aprendiz.

Para Vygotsky, é justamente na Zona de desenvolvimento proximal (ZPD) que pode produzir-se o aparecimento de novas maneiras de pensar e onde, graças á ajuda de outras pessoas, pode desencadear-se o processo de modificação de esquemas de conhecimentos que se tem, construindo assim, novos saberes.

Vygotsky postula que:

O que cria ZPD é um traço essencial da aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta uma série de  processos evolutivos internos capazes de operar quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em cooperação com algum semelhante. Uma vez que esses processos tenham se internalizado, tornando-se parte das conquistas independentes da criança. (1995:96).

Quando alguém não consegue realizar sozinho determinada tarefa, mas o faz com a ajuda de outros parceiros mais experientes, está nos revelando o seu nível de desenvolvimento proximal, que já contém aspectos e partes mais ou menos desenvolvidas de instituições, noções e conceitos.

Portanto, o nível de desenvolvimento mental de um aluno, não pode  ser determinado apenas pelo que consegue produzir de forma independente; é necessário conhecer o que muito embora ainda necessite do auxílio de outras pessoas para fazê-lo consegue realizar.

O papel da brincadeira no desenvolvimento infantil

Vygotsky percebe a brincadeira como um recurso que possibilita a transição da estreita vinculação entre significado e objeto à operação com significados separados do objeto. A transição se dá quando a criança age com um objeto como se fosse outro. Assim, separa do objeto real e concreto o significado. Para isto ele carece de um objeto substituto.

O brincar  não evolui apenas no sentido de manifestar uma  capacidade simbólica, mas também no sentido de começar a ocorrer uma certa coordenação espaço-temporal entre as ações da criança e o  mundo. O brincar se enriquece  com o início da capacidade que a criança revela de conseguir planejar e ordenar no tempo as suas ações.

As brincadeiras do bebê estão nitidamente ligadas ao seu próprio corpo. Então podemos afirmar com bases nos estudos de Zorzi:

A brincadeira torna-se verdadeiramente representativa quando a criança começa a usar substitutos simbólicos que podem corresponder a objetos, gestos e palavras... desta forma, a capacidade representativa se completa quando um objeto pode ser transformado em outro, ou quando gestos e palavras sustentam, ou criam, ficticiamente, um fato ausente. (1998:10).

Vygotsky sustenta a idéia na qual numa situação imaginária como o faz-de-conta, a criança é levada a agir num mundo imaginário (dirigir um carro, por exemplo), é definido pelo significado que a criança está dando à brincadeira e não pelos  elementos  reais concretos presentes ( a sala onde brinca, as cadeiras, e assim por diante).

Kohl afirma que no brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado”. (1993:67)


O papel da escolarização

O modo como Vygotsky concebia e analisava o desenvolvimento humano, levou-o a  discutir explicitamente a papel da escolarização. Ele considerou as especificidades das relações de conhecimento produzidos na escola, distinguindo-os das relações de conhecimentos cotidianos. Algumas obras abordam estas relações como conceitos científicos e conceitos cotidianos.

Embora chegue à escola já dominando inúmeros conhecimentos e modos de elaboração intelectual necessárias à elaboração dos conhecimentos científicos sistematizados, durante o processo de educação escolar a criança realiza a reelaboração desses conceitos mediante o estabelecimento de uma nova relação cognitiva com o mundo e com o seu próprio pensamento.

Destaca ainda que a educação escolarizada e o professor têm um papel singular no desenvolvimento do indivíduo. Fazendo juntos, demonstrando, dando pistas, o educador interfere na ZPD de seus alunos, contribuindo para a emergência de processos de elaboração e de desenvolvimento que não ocorreriam espontaneamente. A ação do educador é planejada e consciente.

Assim, a escola possibilitando o contato sistemático e intenso dos indivíduos com os sistemas organizados de conhecimento e fornecendo  a eles instrumentos para elaborá-las mediatiza seus processo de desenvolvimento.

Para Vygotsky (1984) :
a escola é o lugar da produção social de signos e é por meio da linguagem que se delineia a possibilidade da construção de ambientes educacionais com espaço para criação, descoberta e apropriação da ciência produzida pela história humana.

Vygotsky e a Educação Especial

As investigações de Vygotsky não se voltaram apenas para o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos ditos “normais”. Atribuindo grande importância à Educação Esécial, coordenou e desenvolveu pesquisas neste campo, tendo atuado com crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais (física, visual, mental, auditiva e múltipla), no Instituto Experimental de Defectologia (termo utilizado na Rússia no início do século passado, para se referir ao trabalho desenvolvido com pessoas portadoras de deficiências).

Segundo afirma o autor:

“A educação para estas crianças deveria se basear na organização de suas funções e em características mais positivas, ao invés de se basear em seus aspectos mais deficitários” (1987:28).

Para Vygotsky,  qualquer fator negativo no organismo desencadeia processos defensivos. O organismo pode ativar suas reservas de força para compensar o fator negativo. Frente à deficiência, emergem tendências psicológicas combativas e o potencial para superação. Essa capacidade de plasticidade do funcionamento criança está no primeiro plano de desenvolvimento.

Para ele, o destino da pessoa não está decidido pela existência de uma deficiência, mas pelas conseqüências sociais, por sua realização sócio-psicológica.

Vygotsky parte da idéia de o “outro” deve mediar a relação com a pessoa com necessidades especiais. E a prática pedagógica que tome como ponto de partida a deficiência em si apresentada como pressuposto,  a dificuldade, através da modelagem de comportamentos, ou do desenvolvimento de atividades de caráter funcional, apenas. Previamente, determina-se o que a pessoa portadora de deficiência não pode alcançar,
Se, ao contrário, ao invés de não “reduzirmos”, as possibilidades destas pessoas, atuando num processo de interação constante, procuramos com elas as vias de acesso à constituição de conhecimentos e valores, estaremos possibilitando que aprenda e se desenvolva, apesar da deficiência, sem previamente determinarmos até onde terá condições de caminhar... ou ir além.

Considerações finais

Vygotsky apresenta-se atual e desafiador aos olhos do educador dos dias atuais.
Além de ter formulado inúmeros conceitos e criado juntamente com os seus colaboradores uma nova abordagem psicológica, este jovem escritor, pesquisador, professor esteve preocupado em entender a relação entre as idéias que as pessoas desenvolvem, dizem ou escrevem.

O seu nome dificilmente deixa de aparecer em qualquer discussão  séria sobre o processo de aprendizagem.


                                                                                 
Bibliografia

ANTUNES,  Celso.  (2002) Vygotsky, quem diria?! Em  minha sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes. (fascículo 12).

FONTANA, Roseli.  CRUZ. Maria Nazaré. (1997). Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual (Formação do Educador).

______________ (1995).  A elaboração conceitual : A dinâmica das interlocuções
na sala de aula. In: A. L. B. SMOKA e GÓES, Maria Cecília (orgs). A linguagem e o outro no espaço escolar. Campinas: Papirus

GÓES, Maria Cecília. (1991).  A natureza social do desenvolvimento psicológico.
Caderno CEDES  n.24, Campinas, SP: Papirus.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. (1993).  Vygotsky  Aprendizado e desenvolvimento: Um processo Sócio-histórico.  São Paulo: Scipione (Coleção Mestres da Educação).

REGO. Teresa Cristina. (1995). Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.  Petrópolis:RJ: Vozes .(Educação e Conhecimento).

VIGOTSKY. L. S.  (1998).  A formação social da mente.  6.ed. São Paulo: Martins Fontes (Psicologia e Pedagogia).

_______________. (!998). Pensamento e Linguagem.  2. ed. São Paulo: Martins Fontes.

ZORZI, Jaime Luiz. Intervenção fonoaudiológica nas alterações da fala infantil. (1998). Revinter

PESSOAS DEFICIENTES E PARENTALIDADE



Algumas famílias ao terem um filho deficiente, após passarem pelo período de negação, superam essa fase inicial (de medo e rejeição) à medida que o bebê começa a interagir. Muitas vezes, os laços de parentalidade não são suficientes para que tal aceitação ocorra. Conforme esclarece Buck (op. Cit Busclagia) “dar a luz a uma criança deficiente não há tempo de preparação”.
Afinal, a parentalidade demanda papéis assumidos socialmente. Quando uma criança nasce, o relacionamento social do homem e da mulher, agora (pai e mãe) se altera.  Muitos pais só passam a lidar com aceitação do filho deficiente com processo de interação acima citado. Assim, ao verem a criança se relacionado com  o mundo começam a esquecer o “rótulo” que impuseram a ela  e passam a  conhecer a personalidade desta criança. Esta experiência inicial chega ao casal como sendo traumática e dolorida. Neste caso, os pais precisam de orientação e apoio.
Como vimos na literatura estudada, o primeiro processo que ocorre é o da negação. Os pais demoram a perceber que na verdade, não rejeitam a criança, mas sim, a deficiência. Afinal, a ferida narcísica está latente.
Este sentimento de negação, pode ser seguido por  outro sentimento negativo: a raiva diante da frustração do projeto de família  que  não saiu como o esperado. Os pais, homem e mulher, cheios de projetos diante da constituição da família  podem se deixar “enfraquecer enquanto casal”. Será necessário que busquem caminhos para ajuda mútua e fortalecimento da relação. Muitos casos de famílias cujos    filhos nascem deficientes, acabam com a separação do casal.
Alguns pais,  num misto de dúvida e medo dizem que não querem o bebê (rejeição). Geralmente esse sentimento (às vezes ocorre por impulso).  Em muitos casos ocorre a depressão (um sentimento intenso de tristeza), e a sensação de que “o mundo está desabando”. Afinal, o filho sonhado, não está lá. Quem poderá compreender-me? Pensam alguns.
O processo de aceitação é um dos momentos mais difíceis para o sujeito, sentimentos se misturam e esbarram com o próprio modo de ser.  Aceitar o outro (tanto o filho deficiente, quanto ao cônjuge) do jeito que é não significa compactuar com ele, mas entender que as transformações dependem exclusivamente de um desejo individual, pessoal de melhora, que pode ou não, ser correspondido.
É inevitável o jogo de culpas entre o casal. Através da aceitação os relacionamentos interpessoais tendem a ganhar uma atenção menos sofrida, ciente que aceitar não é concordar com tudo, mas abrir espaço para que o novo chegue.

Conforme vimos no filme apresentado em sala de aula, muitas mães, aceitam a deficiência da criança e afirmam: -“Eu não mudaria em nada o meu filho. Gosto dele do jeitinho que ele é”.


 BUSCAGLIA, Leo. Os deficientes e seus pais: um desafio ao aconselhamento. cap. 2. Record, 1993

terça-feira, 28 de abril de 2015

CADERNO DE COMUNICAÇÃO

CADERNO DE COMUNICAÇÃO: SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS 
COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

O caderno de comunicação é um caderno utilizado para registrar as atividades realizadas no dia a dia. Com ele podemos conversar sobre o que fizemos, com quem e onde. Podemos sempre voltar as páginas e relembrar o que fizemos no dia anterior, semana anterior ou mês anterior.
 
Isto ajuda muito a criança com necessidades educativas especiais pois ajuda esta a localizar-se em períodos de tempo mais prolongados e na organização de sequencias de acontecimentos.
Sendo assim, o caderno de comunicação é:
  •   É uma estratégia de ensino pois ajuda a criança na sua organização, orientação, adequação e estruturação espacial e temporal;
  •   É um recurso que promove o diálogo, a conversação sobre um tópico comum trabalhando a linguagem expressiva e compreensiva;
  •   É um meio de ajudar a pessoa a criar memória e fazer associações entre as experiências vivenciadas e as que está vivenciando.
  •   É uma forma de ensinar a pessoa a refletir sobre seu dia.
Estes cadernos possuem os seguintes benefícios para o processo de ensino e aprendizagem:
  • Promovem a interação;
  •   Estimulam a comunicação;
  •   Propiciam a conversação / diálogo;
  •   Auxiliam na memória e na organização do pensamento.
  •   Ajudam a estruturar a rotina dando maior consistência ao processo de aprendizagem.
O ideal é fazer o registro logo após a atividade feita, mas é possível fazer um registro geral no final do dia, relembrando tudo o que fizeram juntos. Se você decidir registrar logo após a atividade lembre-se de “reler” o dia da criança antes dela ir embora.
 
Além disso, podemos fazer uso do livro de experiência real que conta a história de si próprio e de suas experiências ajudando o indivíduo reviver eventos passados, além de registrar passeios, datas comemorativas e atividades que precisam de reforço o que leva a uma aprendizagem significativa.
 
O livro de experiência real é importante pois:

  •   Ajuda o aluno e o professor a ensinar e rever conceitos e vocabulário relacionados com a atividade realizada;
  •   Reforça experiências que não ocorrem frequentemente dando um sentido para a aprendizagem
  •   Ajuda o aluno a sair do “aqui e agora”, pois permite o diálogo sobre eventos passados reforçando conceitos fora do contexto do evento real;
  •   Fornece uma fonte de materiais apropriados às necessidades individuais (visuais, táteis, conceituais e comunicativas e as habilidades da pessoa).
Os principais benefícios são:
  •   O indivíduo se coloca como sujeito da ação;
  •   O indivíduo é o personagem principal;
  •   O indivíduo pode aprender conceitos de maneira mais significativa, pois trata-se de algo que ela vivenciou primeiro;
  •   O indivíduo tem a chance de refletir sobre o que passou;
  •   Apresenta-se como estratégia para auxiliar a pessoa a lembrar de pessoas que conheceu e lugares por onde esteve, fazendo associações e auxiliando na estruturação de seu pensamento.
Para utilizar o caderno de comunicação e o livro de experiência real, devemos:
  • Envolver o aluno na produção de seu livro tanto quanto for possível;
  •   Permitir que a pessoa colete e guarde alguns materiais usados na atividade para serem colocadas no livro de experiência real (balão vazio de uma festa, colherinhas de sorvete, folhas de um parque, saquinho de batata, canudinho, etc.);
  •   Fornecer uma caixa ou sacola para a pessoa coletar estes itens;
  •   Para itens difíceis de colar para afixar no livro, pode-se usar sacos tipo “zip lock” presos no topo da página;
  •   No começo utilize um conceito principal por página, para auxiliar no desenvolvimento de conceitos;
  •   Ao invés de colar os itens utilize velcro para a pessoa ter a oportunidade de manusear os objetos novamente;
  •   Sempre utilize materiais apropriados às habilidades conceituais e visuais das pessoas com quem estiver trabalhando (avaliação funcional);
  •   A pessoa que for totalmente cega necessitará de estímulos táteis. Isso pode apresentar um desafio, mas com criatividade as estratégias propostas continuam sendo viáveis;
  •   Todo aprendizado vai do concreto para o abstrato (depende do estágio que a pessoa se encontra);
  •   Faça avaliações contínuas para assegurar que a pessoa esteja realmente entendendo o conceito representado pelo objeto ou figura (dependendo do estágio);
  •   A pessoa deve ser envolvida ativamente no processo participando da construção dos livros, calendários ou cadernos de comunicação.