segunda-feira, 16 de março de 2015

A CRISE DE NOSSOS SENTIDOS - RESENHA

A CRISE DE NOSSOS SENTIDOS – RESENHA

Fernanda Cabral Lessa e Warlen Fernandes Soares




Ao refletir sobre crise que acomete o estilo de vida moderno, Duarte Junior, chama atenção para a nossa anestesia diante de fatos cotidianos que estão se perdendo ou sendo deixados em segundo plano. Defende que a crise pode gerar uma alteração de rumo em nossas vidas, uma possibilidade de mudança. Neste aspecto, propõe que reflitamos sobre a segregação corpo e mente, fato que em sua opinião contribui para a crise da modernidade.
No capítulo que intitulado “O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível”, aborda a necessidade atual da educação do sensível e propõe que se possa repensar a vida diária com sensibilidade.
Ao articular sobre a teoria do “Mínimo eu”, de Christopher Lash, defende o pressuposto de que nos tornamos consumidores passivos para atuar em um mundo cada vez mais mercantilizado e repleto de armadilhas urbanas tendenciosamente consumista.
Um ponto interessante nessa obra é o fato do autor dialogar com outros escritores resgatando aspectos da modernidade que colaboram para o fato de uma racionalidade funcionalista que tornou inexpressiva a nossa sensibilidade para o senso estético (p.79)Tal tendência tomou espaços significativos e alojou-se em nossa maneira de morar e repercute também em nossa arquitetura interna.
O texto repagina atividades que outrora eram comuns ao homem urbano, tais como, caminhar, comer e conversar, que em tempos da era tecnológica estão desprovidos de sentido de grupo e carece, no caso do conversar, de interlocução.
Segue refinando suas ideias e denuncia que ações como o ver, o cheirar e o tocar são muitas vezes estimuladas de forma equivocada pela velocidade com que as informações chegam aos nossos sentidos, ou seja, nosso prazer sensorial também foi destorcido, desfocado.
A leitura segue envolvente e suscita um novo olhar sobre a educação do sensível. Entrevê a educação estética para o refinamento dos sentidos de quem aprende um mundo vivo. E reitera que a racionalidade moderna calou o saber corpóreo em detrimento ao racionalismo.
Duarte Junior diferencia o sensorial do sensível afirmando que a experiência sensorial compreende todas as nossas percepções do corpo por meio dos sentidos, registrando e aperfeiçoando estímulos elementares táteis, visuais, auditivos, sonoros naquilo que se apresenta no mundo. E a referência que o saber sensível está no senso comum e faz parte das nossas tradições; são saberes múltiplos que podem ser capazes de proporcionar o reencontro da essência perdida ao longo da vida. Assim, o autor lembra que o saber é corporal, pela capacidade humana de sentir com o corpo; tudo é apreendido primeiramente pelos sentidos, pois, ao olhar, tocar, cheirar, ouvir, saborear, o corpo dá conta desses registros. Logo, o corpo é ponto de partida para os saberes humanos, cuja integridade precisa ser retomada.
Esclarece que o trabalho sofreu alterações ao longo da história e o mesmo foi convertido em função pura e simples, concebido como ganha-pão e alienante. Fator que reforça a separação corpo e mente (sensibilidade e pensamento).
Argumenta com propriedade sobre cenas da vida urbana e sua imersão na sociedade de consumo produzida para saciar desejos e criar novas necessidades, tendo o shopping center como lócus fiel e contextualiza a mídia indicando o seu caráter de simulador da realidade e arquétipo de beleza e moda.
Para este autor, há três palavras que definem a modernidade, respaldado na premissa de Touraine: liberdade, comunidade e racionalização. A análise vê destas forças tensionadas e propulsoras de uma engrenagem que forma o tripé: sujeito, a razão universal e a razão local, respectivamente.
Todas estas mudanças paradigmáticas, refletem-se na educação e o multiculturalismo surge como uma palavra da moda que segundo o autor se presta a sérios equívocos senão for pensada corretamente, como contrapartida a ideia de globalização. Contudo, há de se cuidar para que ao ficar preso a suas origens comunitárias, o indivíduo não perca a sua idiossincrasia.
Cita o filósofo Alan Finkielkraut, para dar suporte a sua ideia dos estragos que a modernidade vem passando, o que a torna extremista em muitos aspectos.
As páginas finais deste texto são um convite a reflexão dos modelos educacionais que temos e aqueles que desejamos construir. Relembra a necessidade de um trabalho educacional que dê conta da busca do equilíbrio e que apare as arestas entre o universal e o particular: uma questão de sabedoria e harmonia, em sua opinião.
Entendemos que o autor não se aproxima muito de uma teoria inédita ou de uma reflexão que provoque desejos de mudanças no leitor. Mas, o texto torna-se pertinente ao recuperar aspectos de uma proposta de arte que envolva o todo e resgate o sensível.
A educação do sensível defendida por Duarte Júnior, da qual faz parte aprender e ensinar arte para a ampliação da pessoa como uma totalidade, propõe a apropriação Assim, a arte pode ser pensada como facilitadora de relações que possam mostrar o sentido da vida às pessoas. Parafraseamos Osvaldo Montenegro ao dizer: \"Que a arte nos aponte um caminho\".
DUARTE JÚNIOR, João-Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do)
sensível. 3. ed. Curitiba: Criar, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário sobre este assunto: