sexta-feira, 10 de abril de 2015

PRÁTICA DE LEITURA - TEXTO COLE

PRÁTICA DE LEITURA: UMA EXCURSÃO SOBRE O TEMA A PARTIR DE FALAS DE ALUNOS

Warlen Fernandes 

O presente estudo tem por objetivo identificar as possíveis causas que afastam as crianças em idade escolar do hábito de leitura. Os sujeitos deste estudo são alunos da Rede Pública de Ensino (Estadual e Municipal da cidade de Campinas), abarcando o Ensino Fundamental, perpassando pelo Ensino Médio e culminando com o Curso de Magistério. A metodologia utilizada consta de questionários aplicados aos alunos, in loco.. Ressaltamos que as falas denunciam aspectos que permeiam as políticas públicas, mas se multiplicam ao enfatizar o mito de que o aluno não gosta de ler. Este estudo agrega elementos de ordem estrutural e conjuntural que interferem no hábito de ler do aluno.

INTRODUÇÃO

A leitura é uma prática que sempre nos fascinou. Incomodava-nos ouvir que a criança não gosta de ler. Buscamos no decorrer deste estudo pistas que evidenciassem os principais fatores que distanciam os jovens do hábito de leitura.

Emergimos por três anos em realidades diversas: uma escola do ensino fundamenta e médio, uma do ensino médio e outra, específica para a formação de professores para o exercício do magistério. As três instituições de ensino situam-se na cidade de Campinas.

Os sujeitos deste estudo foram alunos do Ensino Fundamental e médio de Escolas da Rede Municipal e Estadual da cidade de Campinas. E também alunas do Curso de Magistério de uma Escola da Rede Estadual.

Prevaleceu a crença na leitura enquanto um poderoso instrumento de conscientização e de libertação da classe oprimida. E que uma educação, que se proponha a uma prática libertadora, deva entender o ato de ler enquanto um processo interativo, no qual o sujeito obtenha um entendimento crítico sobre a realidade apresentada, contribuindo para uma nova visão de mundo pelo leitor.

Este estudo exigiu um olhar desnudo de preconceitos sobre as leituras que os jovens realizavam. E foi relevante a contribuição de alunos, professores, orientadores pedagógicos e diretores de escola para que a pesquisa se realizasse com sucesso.

O presente trabalho demonstrou que há muito a ser feito sobre a questão da leitura no bojo escolar e que, com um pouco de disposição, conseguiremos superar as agruras que o sistema ideologicamente, insiste em nos apresentar como insuperáveis. Nosso verbo de ação é ousar.

UM POUCO DE FANTASIA

A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência critica, para a expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo e tudo o que se passa em seu redor. Sendo fundamental mostrar que a leitura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.
Uma contadora de estórias chamada Ariel que morava na Terra do Nunca (essa é uma terra encantada onde as crianças são crianças para sempre e acreditam em estórias de magias, fadas, bruxas, mestres dos magos, heróis, gigantes, príncipes, princesas, duendes, sereias e ogros).
Um dia, olhando da Terra do Nunca para a Terra dos Adultos, Ariel ficou triste ao ver que as crianças dessa outra terra não mais acreditavam em sonhos e acabavam virando adultos cheios de tristeza em seus corações. Então, ela resolveu agitar sua varinha mágica para criar um portal mágico para a Terra dos Sonhos e assim trazer um pouco de alegria e esperança para os habitantes desse mundo que um dia, há muito tempo atrás, foram capazes de conversar com as fadas e outros seres encantados.
Será retomando o espírito empreendedor de Ariel que investimos no sonho de levar um pouco de leitura e investigar a razão, se é que existe, que afasta a criança do livro.

METODOLOGIA: A PROCURA POR UM CAMINHO

A procura por um caminho que ajudasse a construir este estudo, não foi tarefa das mais fáceis. Após delinearmos o nosso objeto de estudo (alunos leitores), alocamos este estudo como uma pesquisa exploratória, pautada na abordagem qualitativa, com ênfase para o estudo de caso.

O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por circunstâncias, principalmente. Por outro lado, a natureza e abrangência da unidade (...). Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso está determinada pelos suportes teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. (TRIVIÑOS, 1997, p.133-134)

Reconhecemos esta pesquisa como qualitativa, pois objetiva produzir um conhecimento que leve a ação/transformação e não apenas a constatação de dados ou fatos. Pois, uma pesquisa por si só não transforma se não estiver relacionada a um trabalho que agregue o coletivo e, antes disto, a reflexão sobre as práticas cotidianas.

A necessidade de definirmos o objeto de estudo foi-se desvelando à medida que aprofundamos o conhecimento sobre o tema. Acerca do objeto de estudo MYNAYO esclarece:
Para delineamento do objeto, a primeira tarefa a que nos propomos é um trabalho de pesquisa bibliográfica, capaz de projetar luz e permitir uma ordenação ainda imprecisa da realidade empírica. (1992, p.97)

Neste estudo o conjunto dos dados qualitativos e quantitativos se complementam, ajudando a entender a realidade pesquisada. Realizamos um amplo trabalho de campo onde coletamos os dados e posteriormente, elencamos as categorias de análise.
A proposta maior contida neste estudo será levar o educador a captar uma nova concepção em torno do ato de ler do educando, voltando-se para o compromisso da leitura como prática social libertadora.
Para desenvolvermos este estudo, adotamos os seguintes procedimentos metodológicos:
-questinário aplicado in loco;
-entrevista;
-observação;
-estudo bibliográfico.

OBJETIVOS

- Identificar os possíveis fatores que afastam a criança em idade escolar do hábito de leitura.
- Levantar subsídios para uma nova reflexão sobre prática de leitura nas escolas onde a pesquisa foi desenvolvida.

UM CAMINHO A TRILHAR

Um momento bastante delicado da pesquisa é aquele em que se percebe uma espécie de desconstrução do fazer pedagógico e, ao mesmo tempo, o despertar do desejo da continuidade renovada de uma prática — um passo adiante sem desgarrar-se dos passos dados e sem perder o caminho para onde.
Para desenvolvermos este estudo, trilhamos inicialmente por diversos caminhos. O primeiro passo foi no sentido de percebermos quais textos eram oferecidos aos alunos de acordo com a faixa etária. Posto isto, nos propusemos a perceber a maneira como a biblioteca escolar se organizava.
Para nossa surpresa, em uma das escolas pesquisadas, todos os livros estavam na sala da diretoria e os alunos não podiam fazer empréstimos visto que não havia catalogação e ficha de retirada. Intentamos um singelo passo ao aproveitarmos uma sala vazia usada para depósito de material de Educação Física, para a confecção improvisada da biblioteca.
Este passo motivou alunos, professores e coordenação a aderirem ao nosso propósito. Criamos então o “Cantinho da Leitura”. Passamos a ter encontros regulares com os diferentes grupos de alunos (classes), e os empréstimos tornaram-se regulares, culminando no fim do semestre com a Feira do Livro. Nesta Feira, nenhum livro poderia ser comprado com papel moeda. O valor de compra era o próprio livro.
Nas outras escolas havia biblioteca escolar, embora não houvesse bibliotecário. A função em ambas, era atribuída a um professor aposentado.

LEITURA: ADOTANDO UM CONCEITO

Ler é um ato eminentemente humano que faz parte de nossa comunicação com o mundo.
Sobre isto Teodoro da Silva explica:
O fenômeno da comunicação humana deixa-se conhecer como uma estrutura que reúne uma multiplicidade de elementos distintos e únicos, em torno de um eixo ou de uma ordem cujo sentido é dado pela correspondência intencional entre seus elementos e o mundo. (1992, p.71-72).

A dinamicidade da ação de ler nos levou a adotar um conceito de leitura para este estudo:
Segundo FERREIRO E PALÁCIO:
A leitura é um conjunto de processos paralelos em interação, que atendem simultaneamente a níveis diferentes da estrutura do texto, é também processo construtivo. (1990, p. 170)
A etimologia da palavra ler segundo Resende tem um sentido bastante amplo e próprio:
Ler – colher que pressupõe o intercâmbio de quem colhe com o que se traz em cada ato de colheita (ato de coisas colhidas momentaneamente a coisa cultivada com mais tempo e cuidado. O sujeito recolhe os significados do mundo. (1993, 12)
A autora acredita que ler é seguir as pegadas; percorrer as florestas, o caminho; costear; deslizar; escolher; eleger; e finalmente, apoderar-se de, robar.
Eis então o momento em que a leitura torna “perigosa”. É quando o leitor apodera-se do conhecimento e uma vez adquirido não lhe pode ser tomado. É uma posse não apoderada, mas conquistada. Ninguém nos tira o que efetivamente aprendemos.
A leitura é uma das formas mais ricas de interação do homem como o mundo. Ela não ocorre de forma isolada da realidade do sujeito e é precedida de uma reação simbólica e mediada, bem como depende do ritmo de cada leitor.

(DES) INTERESSE PELA LEITURA: ENCANTOS E DESENCANTOS

Percebemos no decorrer da pesquisa que a escola prioriza os textos didáticos (livros, cadernos, folhas de atividades, dentre outros) em detrimento ao tipo de leitura que a criança realiza fora dela.

Não desconsideramos que algumas crianças apresentam efetivamente dificuldade em entender, interpretar e decodificar um texto. Contudo, não nos propusemos a analisar cada caso dado a especificidade do tema.
Reconhecemos que nenhum fenômeno ocorre de forma isolada. Por isso, podemos elencar uma série de fatores que contribuem para que a leitura não se transforme em um instrumento de conscientização e superação da realidade, no íntimo de nossas escolas. É o cerco ideológico suprimindo o pedagógico. Sabemos que a promoção da leitura está vinculada a fatores econômicos e políticos. Um povo com fome de comida, poderá ter fome de saber? um povo com altos índices de desemprego, sem um salário condigno poderá adquirir condições concretas para a produção da leitura crítica?
Diante disso ainda nos cabe uma análise depurada sobre a formação do educador básico. Se realmente almejarmos mudanças, teremos que considerar a formação daquele que se destina a formar educadores. Percebemos hoje, através de inúmeras pesquisas, que o educador se vê expropriado de seu saber. É a alienação do trabalho docente, frente o qual o trabalhador (leia-se professor), perde o controle sobre o seu processo de produção e cai no reducionismo pedagógico.
Vemos na realidade, que a Universidade, tal como se apresenta nos dias atuais, ainda está a longos passos de efetivar a tão conclamada transformação social.
Se, por um lado, as questões estão formuladas e pouco ou quase nada tem sido efetivamente realizado no decorrer da História para resolvê-las, por outro, cabe-nos interrogar: enquanto educadores qual está sendo o nosso papel? Estaremos bebendo do cálice amargo do conformismo que assim como um veneno, mata a cada dia as nossas aulas? Certamente há resistências.
Atribuir culpas à formação docente é um erro. A História nos ensina que tudo é mutável, e que as mudanças embora lentamente ocorrem onde sentamos para discutir sobre Educação.
No transcorrer deste estudo, percebemos também descaso pela biblioteca escolar nas escolas estudadas.
A biblioteca funciona de forma precária. Que isso soe como uma denúncia!
Ao tecermos uma análise que tenha como objetivo enxergar o ato de ler em sua amplitude, havemos de abordar a situação sócio-político-econômica do aluno.
O livro é prenúncio de imaginação criadora, de senso crítico, de dúvidas e aprendizagens. Prado enuncia “Uma criança sem livros é prenúncio de um tempo sem idéias”. (1996, p.19).
Constatamos em nossa pesquisa que a criança gosta de ler. Faltam-lhe, porém, condições para aquisição de livros.
Isto já responde parte de nossa dúvida sobre o que afasta as crianças do livro. Veja-se:
-falta de recursos financeiros para adquiri-los;
-falta de incentivo (na escola e no lar);
- falta de uma política educacional preocupada com a aquisição do saber pelas classes oprimidas. Há crianças que ingressam na escola e nela não permanecem por razões que não pretendemos aqui abordar. É o que ENGUITA chama de “excluídos do interior”.
-influência da mídia (em especial a TV).

DIANTE DOS FATOS, COMO INTERVIR?

Detenhamo-nos um momento a refletir sobre os dados obtidos.
A formação de crianças leitoras tem como finalidade aproximar o aluno dos livros, ofertando-lhes recursos que otimizem este aspecto. A contribuição da escola nesse caso é de suma importância. Cabe a ela, oferecendo-lhes recursos para que possam interpretar e compreender os textos lidos; ampliar a capacidade expressiva através de atividades literárias e artísticas em que possam manifestar sentimentos e opiniões e desenvolver a capacidade crítica estimulando-os a reflexão sobre o que lêem, confrontando diferentes pontos de vista, principalmente quando estiverem envolvidos temas polêmicos.
A concorrência desigual com a mídia também deve ser refletida. Hoje as crianças têm muitos estímulos, como a Internet, Tv. É indiscutivelmente mais difícil, estimular o gosto pela leitura, existem muitos “concorrentes”, porém temos que estimular as crianças demonstrando que o livro também é um grande mobilizador, provocador de fortes emoções, e para isso basta somente ler e deixar-se tocar pelas palavras.
Torna-se importante utilizar dentre outros recursos as imagens do próprio livro: estímulo visual. As ilustrações atraem o interesse da criança. Um outro recurso é utilizar estímulos auditivos, para acompanhar a narrativa, músicas, frases, alterar o timbre de voz, variar o repertório literário com estilos diferentes de histórias: engraçadas, de fábulas, de amor, de aventura, de suspense. Livros com pouco texto, de letras grandes, com ilustrações variadas são ideais para as crianças que estão iniciando o processo da leitura.Nesse momento estamos desenvolvendo a capacidade de apreciação da criança e a estimulando a descobrir o prazer em ler.

BRINCANDO COM O TEXTO

A leitura é também uma forma bastante rica do brincar. Os livros, desde os mais simples, trazem um número muito grande de informações à criança, em forma de figuras, cores, texturas, sons, letras, números, formas geométricas e cheiros, enfim, estímulos necessários ao bom desenvolvimento intelectual da criança. Além disso, cada vez mais eles trazem riquíssimas ilustrações que também estimulam a criatividade e curiosidade infantil.
Acreditando nisso, o nosso primeiro passo foi no sentido de conversarmos com as crianças sobre o seu gosto literário. Gosto literário aqui é, saber de que tipo de história ela mais aprecia. Feita essa etapa, provocamos a leitura de variadas formas.
Ao lermos para as crianças, procuramos enfatizar as emoções, a entonação de voz, o riso, a tristeza, a pausa necessária para uma reflexão.
Líamos aquilo que era votado pelo grupo classe e apreciávamos a leitura com o sabor de quem o faz pela primeira vez. Terminada a leitura, o livro era oferecido à classe (sempre disposta em círculo). Algumas crianças queriam ler o livro, outras apenas o folheavam... O terreno estava preparado.
Toda criança, com raras exceções, gostam de livros com os seguintes aspectos:
1. Desenhos bem feitos. Tem que ser desenhos ou ilustrações. Algumas relataram achar fotos deprimentes;
2. Os desenhos ou ilustrações devem refletir claramente o que está no texto que ela está lendo, para que possa associar o mesmo com a idéia visual da situação;
3. Folhas com pouco texto e com letras grandes;
4. Texto claro, de preferência com palavras que ela já conheça.
5. Não limitar o número de páginas. Esse fator pode entonar depreciação na capacidade da criança.
6. Peça que ela leia ou conte o que leu. Ao solicitar isso, demonstre total confiança na criança.
7. Só interrompa a criança se for para fazer algum comentário com relação a história. Também, antes de começar, diga-lhe que se tiver alguma dúvida sobre o significado das palavras, que pergunte.
8. Finalmente, seja paciente e nunca a corrija, diga apenas que não entendeu direito, algum parágrafo, etc. Pode ser que durante a leitura ela baixe um pouco a voz o que é normal. Peça, sem mandar, com muito humor e gentileza, que ela fale um pouco mais alto. Isso, só vai significar para ela que você está de fato interessado na leitura, e sua motivação aumenta mais ainda.
9. Se perceber que ela está cansada, peça para fazer uma pausa. Os sintomas de cansaço são: mudança constante na posição, olhadas sutis para o lado, tentativa de deitar no chão, etc. E
10. Por fim, comente com ela a história que foi lida. É provável que ela não tenha entendido bem o conto, já que apenas crianças maiores, conseguem ler para os outros e prestar atenção no que estão lendo.

CONVERSA DEPOIS DA HISTÓRIA

Dentre os vários indicadores que nos orientam na efetivação do hábito de leitura em crianças, salientamos que, ao pedir para ela ler, você, deu-lhe confiança, confiou a ela uma tarefa de gente grande, gostou do que ela fez, fez com que ela se sentisse importante.
Os efeitos benéficos disso para sua personalidade são definitivos. Assim, a semente do hábito da leitura foi plantada de forma simples, natural e harmoniosa, como tudo que é verdadeiro deve ser.
Peça para ela ler para você outras vezes. Dê-lhe mais livros, peça a sugestão dela, leve-a na hora de comprar ou escolher o livro.

LEITURA: UM HÁBITO A SER CULTIVADO

O hábito, pela leitura deve ser adquirido muito antes da criança chegar à escola. Entretanto, pudemos evidenciar que ao chegar ao sistema formal de ensino a criança já traz uma bagagem cultural que deve ser respeitada. Muitas crianças já chegam nas escolas com estímulo para a leitura, em outros casos, a criança precisa ser estimulada.
Conforme notamos, vários fatores interferem no hábito da criança pela leitura. Mas também evidenciamos que muitas crianças começam cada vez mais cedo a despertar para rabiscos, garatujas, traços, desenhos e formar sua opinião sobre o mundo conforme as oportunidades que lhe são oferecidas.
Cabe então enfatizar que se faz necessário colocá-las em contato com a leitura de maneira prazerosa. Um importante caminho a ser seguido nesse aspecto é a exploração da leitura infantil, a qual despertará o interesse e atenção, desenvolvendo nelas a imaginação, criatividade, expressão de idéias, o prazer pela leitura que oportuniza situações, nas quais as crianças possam interagir em seu processo de construção de conhecimento, possibilitando assim o seu desenvolvimento e aprendizagem.
Outro caminho que deve ser seguido é contar histórias para as crianças, porque o significado mais íntimo e profundo do conto (não especificamente o conto de fadas), será diferente e desigual para cada criança.
Será ouvindo narrativas, histórias que elas poderão sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o medo, a alegria, vivendo profundamente o que as narrativas provocam.
A criança compreenderá o mundo dos contos em diferentes momentos da vida e uma mensagem básica que lhe será transmitida é que na vida é inevitável a luta contra dificuldades, é algo que faz parte da existência humana, porém se não nos intimidarmos e enfrentarmos com firmeza os obstáculos e as injustiças conseguiremos dominá-los e sairemos vitoriosos.
A criança pode ser estimulada desde muito pequena para gostar da leitura, não importa se ela ainda não saiba ler um livro, pois os pais devem ler e assim dar essa referência de leitura à ela. Todas as atividades com leitura devem ser prazerosas e não desgastantes. Pais e professores devem estar bem preparados para não se frustrarem e também às crianças se essa perder o interesse.
A postura de pais e mestres deverá ser no sentido de estimulá-las usando outras formas como por exemplo: leitura no ambiente doméstico, destinar um tempo diário para contar histórias, deixar um tempo para a criança decidir o que quer fazer, não forçá-la a ler e escrever (mesmo que ela saiba ler, se não conseguir escrever poderá revoltar-se e perder o gosto pela leitura). Verificamos que pais e professores que lêem livros às crianças estão contribuindo para terem futuros leitores, com um caminho infinito de descobertas e de compreensão do mundo além do prazer que esta leitura em si proporciona, os adultos estarão estimulando a sensibilidade infantil. Ver e ouvir histórias não é apenas um lazer, um passatempo, é também um recurso valioso e agradável para a pré-disposição à aprendizagem e para sua complementação.

O LIVRO AJUDANDO A LIDAR COM O IMAGINÁRIO DE MORTE/PERDA

Apesar de ser um assunto doloroso, a morte faz parte do dia-a-dia de todos nós. Ainda assim, há uma certa tendência dos pais em "ocultar" da criança esta ocorrência natural da vida na tentativa de protegê-las.
Para protegê-los, no entanto, será preciso prepará-los adequadamente para tomar contato com essas ocorrências. Infelizmente, o fato de evitar falar sobre a morte não a deixará longe de nós. Evitar falar de sofrimento não o afasta, apenas impede que ele seja elaborado pela criança.
Um aspecto importante sobre o tema, é a questão das fantasias que a criança faz a respeito da morte. Todo indivíduo - a partir da ciência e ou de crenças religiosas -, tem uma maneira particular de compreender, com maior ou menor dificuldade, o que leva uma pessoa à morte. A criança, auto-centrada, tende a crer que tudo o que acontece gira ao seu redor. A criança pequena não tem noção da finitude da vida, trazida pela realidade. Para ela, a vida é regida segundo o princípio do prazer. Assim, torna-se difícil para a criança compreender que uma situação de morte de um ente querido seja definitiva. Para abordar o assunto, alguns filmes e livros podem ajudar: clássicos como Bambi, O Rei Leão, ou Em Busca do Vale Encantado, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notamos que o interesse pela leitura diferencia-se de acordo com as diversas faixas etárias. Crianças entre oito e dez anos preferem livros de textos curtos, com ilustrações e que narrem aventuras. Nesta época é comum o aluno querer muitos empréstimos da biblioteca escolar, visto que suas habilidades para a leitura estão em pleno desenvolvimento. A faixa etária compreendida entre os dez e doze anos, mostrou-se mais refratária à leitura e suas opções são livros de mistério e quadrinhos. Dos treze aos 15 anos, a preferência é por livros narrativos: diários de viagem, por exemplo. No Curso de Magistério, as leituras estão centradas nos textos escolares, nos romance e nas poesias.
Evidenciamos a necessidade de o educador tornar o ato de ler atraente para o aluno. Para isto, a oferta de livros deve ser farta e as escolhas feitas pelos alunos, respeitadas. O que afasta a criança do livro também é a imposição de padrões de leitura pela escola aos discentes. É papel da escola e da família favorecer o contato dos jovens com os mais diversificados materiais de leitura.
Constatamos que as crianças e os jovens gostam de ler, e que a maioria dos alunos realiza leituras prioritariamente, em suas casas. Este fato que nos faz crer que a biblioteca escolar não se apresenta como local de extensão ao interesse e curiosidade do aluno leitor.

A prática docente também está presente nas falas dos sujeitos, como elemento promovedor ou desmotivador da prática de leitura. Fatores de ordens estruturais e conjunturais agregam-se ao tema proposto. Contudo, evidencia-se que a prática de leitura, se realizada desde os primeiros anos de escolaridade, torna-se um hábito salutar entre os jovens.
Os resultados aqui expostos não devem ser generalizados para outras Instituições, mas poderá servir de referencial para reflexão e crítica sobre a estreita relação entre a criança e o livro.
O presente estudo respondeu a algumas questões e suscitou muitas reflexões sobre a leitura infantil e juvenil. Outro não é o papel da pesquisa como processo: investigar, perquirir, buscar e levantar novas indagações.
Que este estudo siga essa trajetória e suscite novas invistigações.

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